sylvie moyen

 

O desejo de ser fotógrafa ficou guardado por décadas. Na época de escolher uma profissão, aos 17 anos, fiquei no meio do caminho entre a arte e o mercado. Escolhi a publicidade, depois o design gráfico, e com 44 anos assumi o amor de toda uma vida: a fotografia. Foi libertador para mim e quando fotografo sinto que estou em outra dimensão, perco noção de tempo, se estou com calor ou frio, suja, ou se por algum motivo estou me colocando em risco.

O ato de fotografar me transforma em uma pessoa mais corajosa. Ele me leva à lugares e situações onde estou desconfortável. Quando digo isso é no sentido de romper limites emocionais. O meu desejo de contar histórias e me conectar com pessoas me empurra para encontrar um lugar corajoso dentro de mim e me engrandece. Sempre fui muito tímida e a fotografia rompeu várias barreiras que eu achava intransponíveis.

As mulheres estão presentes na maioria das minhas fotos. Por sermos mulheres, nós, de alguma forma, nos olhamos e existe uma confiança. Consigo entrar em suas casas, existe uma abertura, uma entrega. Em culturas completamente diferentes, continuamos sendo mães, irmãs, filhas, esposas, trabalhamos, enfrentamos preconceitos e barreiras em diferentes graus. Como fotógrafa eu descobri que a empatia é a forma mais potente de conexão entre as pessoas. O mais importante para mim no fim de tudo é que as pessoas que fotografo saibam que vou honrá-las, vou mostrar a força de cada uma delas.

De um ano para cá comecei uma viagem mais introspectiva; com a impossibilidade de me conectar com outros me reconectei comigo mesma. Com minhas forças e fraquezas, com minhas barreiras, com a impermanência e a falta de controle, com nossa finitude. Meu pai com Alzheimer, o apagamento de nossa história, tudo muito duro. Nesse mergulho muito íntimo levei todas essas emoções para dentro da minha fotografia.

I M P E R M A N Ê N C I A S:

Sylvie  Moyen

Com esse ensaio fotográfico busquei fazer a conexão entre a efemeridade das coisas e de nós mesmos, ambos sujeitos ao tempo, à acidentes, aos imprevistos da vida. É um paralelo que costura essas experiências e nos faz olhar mais de perto para a beleza das imperfeições que nos tornam mais humanos e próximos da natureza que nos cerca.

As imagens nos convidam a contemplar nossa própria mortalidade e provocam uma espécie de conforto, já que sabemos que toda existência compartilha do mesmo destino. Reconhecem a história através de suas marcas mesmo que isto inclua o sofrimento. Nos fazem pensar que a beleza é um acontecimento dinâmico que ocorre entre você e outra coisa. Todas as coisas são incompletas, todas as coisas, incluindo o próprio Universo, estão em um movimento constante para se tornar outra coisa ou se dissolver. O ensaio diz respeito ao minúsculo e escondido, ao provisório e efêmero: coisas tão sutis que são invisíveis