MANIFESTO

por jade borges

 
“Quem”, afirma questionando, indaga afirmando.

Quem fez a primeira fotografia no Brasil? Quem estava sendo fotografade nos primeiros registros? Como estavam sendo retratades? A autoestima tem relação com o poder? As fotografias servem a quem? Quem representa a maior porcentagem de profissionais no campo fotográfico e que identidades de gênero e raça preponderam?

Reservada à elite e conduzida por homens brancos, a tecnologia fotográfica era rara e cara no século XIX, e foi durante anos, instrumento subjetivo de controle e de criações estereotipadas de indivíduos e comunidades. Em um recorte documental e artístico, a fotografia não existe de forma passiva, como representação crua de uma realidade ou de alguém. Há intenção no enquadramento, na escolha do que mostrar e como retratar.

Quando grupos minoritários são fotografados sem abarcar a multiplicidade de suas faces (vivências, autoestima), e suas individualidades são resumidas a imagens de violências (sociais e políticas), uma ampla história é reduzida e reverberada como uma única forma e visão de vida. Ter consciência da narrativa visual da dor é imprescindível, tanto para romper com esse processo imagético, quando possível; como para registrar de forma crítica e sensível quando inevitável.

A democratização do acesso às câmeras semi-profissionais e de celulares tem sido uma das formas de modificar esse cenário com narrativas até então não contadas. O olhar muda? Ou muda a direção de onde vem? Quem vem quebrando o ciclo de interpretações romantizadas, limitadas e incompletas? O que acontece quando quem sempre foi palco de representações, toma este espaço que lhe objetifica e traz suas próprias concepções?

Imagem é poder. Que a fotografia continue se transformando, e ecoe como símbolo de autoestima, afeto e representatividade, abrindo espaço para perspectivas orgânicas e múltiplas de existências.