laur peters lumertz
Sinto que sempre estive no meio, não necessariamente por escolha mas por habitar esse espaço e não correr pra nenhuma ponta. Estive no meio da minha família, de 3 irmãs sou a do meio, ainda sim para além das irmãs sinto que estive no meio da ruptura. Um momento singular onde a mãe se torna também o pai de uma família, e o pai… bem… o pai vai pra algum outro lugar que ainda não sei nomear. Esse meio ficou muito indefinido e me trouxe algumas habilidades que hoje tenho orgulho em relatar. Estar no meio permite ver todos os lados, estar no meio é estar exposto e ainda sim ter a visão ampliada. É vulnerável estar no meio e eu me sinto assim a maior parte do tempo. Por muitos anos eu estava no meio por falta de vontade, como quem sobra mas agora eu quero estar no meio! Faço questão de dizer que sim, estou no meio e isso também se reflete no meu gênero. Não que ser uma pessoa não binaria signifique estar no meio mas acho que quero criar esse lugar meio e não estar nele por falta de opção. Lembro de quando criança me achar mais parecida com meu falecido irmão do que com minhas irmãs. Recordo me olhar no espelho e dizer pra mim mesmo que eu era um menino. Fico pensando em tantos meses que fiquei olhando sobre homens trans mas com medo de não ter um desejo tão forte afinal.. ser mulher também me cabia. Hoje eu acho que eu não sou nada, um pouco de tudo, um “meio”.


Sobre as fotografias escolhidas a 1 e a 2 foram tiradas para um trabalho chamado “Recortes para dar nó”. A numero 2 também faz parte de uma video performance que irei deixar o link aqui: https://youtu.be/AuFVrLv8JD8 Meus trabalhos constantemente buscam esse lugar do meio, um lugar que possa ser meu e ainda sim possa falar do meu corpo, dos meus afetos, dos meus sonhos. To em busca desse lugar.
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