karina motoda

Sempre gostei de fotografias. E de ouvir histórias. E de ouvir histórias que ressurgem e são relembradas por causa de fotografias. Inclusive, um dos passatempos da minha família é rever álbuns e fotos avulsas antigas. Foi assim que eu conheci muitas das pessoas e acontecimentos da minha própria vida. E, anos mais tarde, já como estudante de Artes Visuais, em meio às diferentes técnicas artísticas que nos eram apresentadas, lá estava a fotografia mais uma vez, cativando o meu carinho e atenção. Quis então fazer retratos que mostrassem o poder dos corpos de comunicar sentimentos, angústias e expectativas sem que uma palavra sequer seja dita. Foi assim que surgiu a ideia para a série “3×4”, que consistia em fotografias de pequenas dimensões, feitas a partir de técnicas analógicas e digitais, que fiz de minhas amigas. Tratava-se de uma investigação sobre corpo e identidade.

Inicialmente, criei fotografias com scanner. Criei composições utilizando fotos 3×4 de meu rosto, digitalizando as minhas mãos e meu cabelo e, em algumas das composições, movimentei esses elementos para gerar reverberações. Depois, fiz também autorretratos com a câmera de meu celular. E, ao longo desse processo, trabalhei também com retratos de minha família, pois era impossível falar sobre minha identidade sem falar sobre ela e sobre minha ancestralidade. Afinal, muito do meu olhar foi influenciado por minha família, a começar pelo meu gosto por fotografia.

Depois dessa série, segui fazendo retratos de outras pessoas e percebi quanta coragem é preciso ter para se pôr diante do olhar do outro, seja o do fotógrafo ou do espectador que verá a fotografia final. É um momento de vulnerabilidade, no qual o retratado disponibiliza a sua imagem para que se criem narrativas que muitas vezes não estão sob seu controle. Pensando nisso, parti por um outro caminho em minha pesquisa sobre identidade, buscando entender um pouco sobre a minha própria. Por entender que, se estou construindo narrativas sobre outras pessoas, eu preciso entender primeiramente de que lugar que estou falando e produzindo. Esse momento para mim foi um tanto complicado, pois, em meus trabalhos, estou mais acostumada a lançar o meu olhar para fora. Porém, inspirando-me na força que eu via nas pessoas que se disponibilizam a se porem vulneráveis para os retratos que eu tirava, segui em minha pesquisa.