jota testi

Sou Jota Testi, nascide em Barreiras no oeste baiano, mas resido atualmente em Taguatinga no Distrito Federal. Sou uma pessoa trans não binária e artista visual, meus trabalhos circulam entre a fotografia, ilustração, pintura, bordado e vídeo. Na fotografia trabalho e me interesso por pesquisas teóricas e práticas sobre fotografia histórico alternativa e digital. Uma parte dos meus trabalhos circundam a pesquisa com o corpo, suas marcas e histórias, a individualidade de cada um, tentando sempre salientar sobre a humanização dessas pessoas, pensando nelas como seres reais, com marcas reais e corpos políticos. Até para entender também sobre o meu corpo, um corpo neutro, político, e onde ele se coloca, ou não, dentro da sociedade..

Além da minha pesquisa em fotografias antigas da minha cidade e da minha família, para então entender sua história e a partir disso quais histórias irei construir daqui para a frente relacionadas agora a minha trajetória, minha estética e meus meios de conta-la. Ou seja, é uma análise para compreender também minhas raízes, clichê, porém é sobre lidar com o meu povo, minha terra, com seus costumes, comportamentos e preconceitos e perceber como isso me fez quem sou hoje e quem eu posso me tornar amanhã. Me coloco como artesão também como resistência, de uma produção que difere em tempo, cultura e técnicas de qualquer meio criativo. Além da pintura e sobreposição de tecido, utilizo da arte popular contemporânea, mais especificamente o bordado livre, como forma de expressão estética e afetiva, que me leva de volta para as lembranças de minha mãe costureira e bordadeira, que é a minha grande influência.

Na produção com o bordado, me envolvo em cruzar o tecido para fazer dele um lugar do meu íntimo, das minhas narrativas, trajetórias e amores. Bordar é experimentar o que a linha e o tecido podem proporcionar, criando novos pontos, novas formas, discursos, significados e problemáticas. Proponho produções políticas que questione a binariedade, cruzando cores e símbolos para compor uma obra. Meu trabalho proposto para o edital consta em cruzar o bordado e a fotografia de modo a cruzar também memórias e histórias, tanto em uma relação de identificação lgbtqia+, mais especificamente com pessoas trans não binarias (o que eu sou), como também em uma relação de uma pessoa latina, brasileira, baiana e interiorana que busca em fotos antigas de familiares e conterrâneos, afeto e poética. Meu objetivo é dar visibilidade a pessoas que não tiveram a chance de se mostrar quem são, pessoas trans e nordestinas esquecidas, tudo através do bordado e da fotografia. A primeira imagem selecionada faz parte da série “Vestígios d’água” que se baseia em memórias fotográficas de uma (minha) família ribeirinha do oeste baiano. Na série o rio, o peixe e o barco são elementos que se voltam para o afeto, representam o lar, o alimento e os altos e baixos desses entes interioranos. Essa obra mostra a mãe e seus filhos em um momento de lazer, com uma boia no rio, e que se relaciona com a terceira, de um pai na pesca para o almoço da família.