camila fontenele

São Paulo, SP

 

Expressar intenções requer muito mais do que um texto, solicita um gesto incorporado, palavras intuitivas que promovam rodopios no escrito vigente. Sinto meu corpo aquecer e a energia circular, as minhas intenções nascem de um lugar que me solicita vitalidade, mesmo que o nosso tempo nos mostre indícios opostos. Quiçá, seja necessário a abertura de um portal para que nossas intenções possam ser experimentadas e explodidas como sementes em um solo ainda por vir. Tenho pesquisado sobre o lugar-entre, um lugar onde seja possível desaparecer. Um desaparecimento que não seja a morte. É neste lugar onde o nome não dá conta que me parece ser possível existir. Como o movimento da baleia entre o inspirar e o expirar ou quando a madeira toca no fogo e ambos transmutam. É no deslocamento que esse lugar passa a estar “visível”, entre o dito e não dito. Essa tem sido a minha rota de fuga para além dos marcadores que me atravessam: mulher, gorda, racializada, migrante, dentre outras coisas que se “acumulam” no meu eu. Sei que esses nomes todos partem de uma estratégia de sobrevivência, mas as minhas intenções demandam vitalidade.

O encontro do fogo e da madeira não tem nome, é um lugar-entre, talvez, a coexistência se aproxime na nomenclatura, mesmo assim ainda não é o bastante. A minha intenção deriva do aglutinar. É a única coisa que eu sei.